Saturday, January 28, 2006

Os ensinamentos do Buddha, o Cristianismo, e a controvérsia na Sociedade Teosófica

O énfase no Cristianismo (ésotérico) distinguiu a perspectiva do Steiner da posição geral da Sociedade Teosófica - que reconhecia o Hinduismo e o Budismo (esotérico) Mahayana/ Maaiana do Tibet como fonte principal de inspiração (representado directamente e dramaticamente por um pequeno grupo de mestres orientais).
A rejeição da 'ortodoxia' da Sociedade Teosófica e a divergência fundamental de opiniões acerca da importância do papel de Jesus e o Cristo ofendia alguns membros da Sociedade Teosófica, que chegaram a acusar Steiner de ter uma perspectiva Cristã fundamentalista e de ser 'anti-oriental'. No entanto, apesar de afirmar que os ensinamentos religiosos mundiais formavam uma espécie de revelação progressiva, isso não o levava a ter desprezo algum pelos ensinamentos pre-Cristãos.
Os trechos seguintes (da tradução inglêsa) foram extraídas da palestra sobre o Evangelho de São Lucas e demonstram o profundo respeito que Steiner tinha pelos ensinamentos do Buda:

"In the course of Earth evolution men will gradually come to recognise the content of Buddha's teaching as something that their own reason, their own soul, tells them. But long, long ages will have to pass before all men are mature enough to produce out of their own souls what Buddha was the first to bring to expression in the form of pure knowledge."

"Buddha's message to men was among the very greatest of teachings and will remain so for long, long ages."

('The Gospel of St. Luke - Ten lectures given in Basle, 15th-26th September 1909'; Second Impression of Third Edition, Rudolf Steiner Press, 1975 - p. 60)
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Tradução:
"Ao longo da evolução Terrestre o ser humano vai gradativamente passar a reconhecer o ensinamento do Buda como algo que seu próprio bom senso, sua própria alma, o comunica. Mas longas, longas épocas, terão de passar antes que todos os seres humanos sejam maduros suficientes para produzir de dentro das suas próprias almas aquilo que o Buda foi o primeiro a trazer a expressão na forma de conhecimento puro/ sabedoria pura."

"A mensagem do Buda para a humanidade foi um dos ensinamentos mais formidáveis e continuará a ser ao longo de longas, longas épocas."
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Thursday, January 26, 2006

A Sociedade Antroposófica - uma tentativa de travar o avanço do materialismo

No início do século XX, Rudolf Steiner, o filósofo-cientista e vidente, desenvolveu a ‘antroposofia’ (e fundou a Sociedade Antroposófica) porque considerou que era essencial para a cultura humana desenvolver conceitos espirituais de forma a travar a onda de pensamento materialista que ameaçava criar cada vez maiores impedimentos à evolução espiritual do ser humano. Pode ser difícil para alguns de nós hoje em dia imaginar que há (ou que tenha havido) uma ameaça real deste tipo. Actualmente, já não é tão raro ouvir perspectivas espirituais sendo exprimidas publicamente – até por físicos, médicos e cosmólogos. De facto, ouve-se uma imensa diversidade de opiniões sobre questões fundamentais, mas, mesmo hoje, a educação escolar, o rumo de 99% da investigação científica, e o rumo das decisões políticas e económicas são provenientes de um materialismo implícito na cultura moderna. O materialismo é a ‘ortodoxia’ actual.
A antroposofia é vista por alguns como uma parte do fenómeno da ‘Nova Era’, mas não é uma nova religião e Steiner não deve ser visto como uma espécie de ‘profeta’. A antroposofia é uma obra espiritual-cultural em progresso. Apesar da antroposofia tratar muito de assuntos ‘supra-sensoriais’, não é simplesmente uma filosofia transcendentalista. O propósito da antroposofia é criar elos entre, por um lado, a cultura e compreensão humana (que baseiam-se quase por completo no mundo sensorial), e, por outro, o plano espiritual. A antroposofia oferece uma perspectiva integral da humanidade - das nossas origens e do nosso desenvolvimento futuro - que pode contribuir muito para o desenvolvimento de uma verdadeira fraternidade que o ser humano anseia por realizar.
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O estudo da antroposofia e o desenvolvimento espiritual

Um estudo inicial da antroposofia consiste em grande parte de desenvolver uma compreensão da ‘fisiologia oculta’ do ser humano, ou seja, dos corpos subtis: o corpo etérico e o corpo astral e dos vários elementos da alma - a alma sensorial, a alma intelectual, a alma da consciência e o ‘Eu’ espiritual. Através de uma integração destes conceitos é possível mais facilmente entender como o desenvolvimento espiritual envolve uma transformação da consciência e a maneira como esta transformação se efectua - envolvendo o desenvolvimento de ‘Manas’, ‘Buddhi’ e ‘Atman’ ou ‘Identidade espiritual’ (‘Spirit self’), ‘Espírito vital’ (‘Vital spirit’) e ‘Homem-espírito’ (‘Spirit man’).

Uma compreensão destes conceitos e termos (tal como são usados por Steiner na antroposofia e por outros instrutores em tradições espirituais relacionadas) não é essencial para trilharmos o nosso caminho espiritual individual, mas pode ajudar-nos a desenvolver uma visão coerente da história espiritual, cultural e religiosa do ser humano – uma questão abordada frequentemente nas dezenas de livros e, literalmente, milhares de palestras conferidas por Steiner.
Alguns aspectos da antroposofia ou ‘ciência espiritual’, podem por vezes parecer obscuros ou complexos, mas um estudo antroposófico pode trazer-nos uma grande ajuda no sentido do desenvolvimento espiritual e socio-cultural.
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Wednesday, January 25, 2006

O estilo da escrita do Steiner

No prefácio à décima sexta edição do livro 'A Ciência Oculta - Esboço de uma cosmovisão supra-sensorial', Steiner diz sobre o estilo deste livro e de 'Teosofia':
"Eu me esforcei bem conscientemente para não fazer uma exposição 'popular', e sim uma que exigisse um autêntico esforço mental para se penetrar no conteúdo. Com isso imprimi a meus livros um caráter tal que sua leitura já constitui, por si, o início de uma disciplina espiritual; pois o tranqüilo e sereno esforço mental exigido por essa leitura revigora as forças anímicas e capacita-as a aproximar-se do mundo espiritual. (p. 27-28)
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Percepção supra-sensorial (um trecho em Inglês do livro 'Fundamentals of Therapy' de Ita Wegman e Rudolf Steiner)

“All the results of the accepted science of our time are derived from the impressions of the human senses. For to whatever degree, in experiment or in observation with the help of instruments, man may extend the sphere of what is yielded by his senses, nothing in essence new is added by these means to his experience of that world in which the senses place him.
But his thinking too, inasmuch as he applies it in his researches of the physical world, adds nothing new to what is given through the senses. In thinking he associates, analyses the sense-impressions, and so forth, in order to reach the laws (the Laws of Nature); yet the man who researches into this world must say to himself: “This thinking, as it wells up within me, adds nothing real to what is already real in the world of sense.”
Now all this at once becomes different if we no longer stop short at the thinking activity which is yielded, to begin with, by ordinary life and education. This thinking can be strengthened, vitalised within itself. We place some simple, easily encompassed thought in the centre of consciousness and, to the exclusion of all other thoughts, concentrate all the power of the soul on the one conception. Then, as a muscle grows strong when exerted again and again in the direction of the same force, our force of soul grows strong when exercised in this way with respect to that sphere of existence which otherwise holds sway in Thought. It should again be emphasised that these exercises must be based on simple, easily encompassed thoughts. For in carrying out the exercises the soul must not be exposed to any kind of influences from the unconscious or the semi-conscious. (Here we can but indicate the principle; a fuller description, and directions showing how such exercises should be done in individual cases, will be found in Rudolf Steiner’s books, Knowledge of the Higher Worlds and its Attainment, An Outline of Occult Science, and other works in Anthroposophy.)
Anthroposophy shows how the exercises should be done from the outset; it shows the way to advance within the sphere of consciousness, step by step and fully wide-awake in carrying out the exercises, as in the solving of an arithmetical or geometrical problem. At no point in solving a problem of Arithmetic or Geometry can our consciousness slide into unconscious regions; nor can it do so during the practices here indicated, provided always that the anthroposophical directions are properly observed. In the course of such training we attain a strengthening of the force of thought of which we had not the remotest idea before. Like a new content of our human being we feel the force of thought holding sway within us. And with this new content of our own human being, there is revealed at the same time a World-content which, though we might perhaps have divined its existence, was unknown to us by experience until now.
If in a moment’s introspection we consider our everyday activity of thought, we find that the thoughts are shadow-like beside the impressions that out senses give us. What we perceive in the now strengthened force of thought is not pale or shadow-like by any means. It is full of inner content, vividly real and graphic; it is, indeed of a reality far more intense than the contents of our sense-impressions.
A new world begins to dawn for the man who has thus enhanced the force of his perceptive faculty. He, who till now was only able to perceive in the world of the senses, learns to perceive in this new world.”

p.3-6 (‘Fundamentals of Therapy’ by Rudolf Steiner & Ita Wegman, Kessinger Publishing, 1925)
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Resumo biográfico do desenvolvimento inicial do Steiner - contexto histórico da fundação da Sociedade Antroposófica

Rudolf Steiner 1861-1925:
o Nasceu na Áustria em 1861.
o Passou a infância como qualquer camponês típico.
o Aos 7 anos (mais ou menos) apercebeu-se que existia o mundo espiritual ‘paralelo’ ao mundo fisico – dos sentidos corporais. Estava consciente de que este ‘mundo’ não era visível (perceptível) à familia dele e a outras pessoas e manteve este ‘segredo’ até os 34 anos de idade.
o Inicialmente teve alguma dificuldade em estudar factos, detalhes e classificações do mundo físico, porque para ele o mundo espiritual parecia ter mais ‘realidade’ do que os objetos do mundo físico.
o Quando viu formas geométricas representadas num livro de matemática reconheceu que as formas geométricas ali representadas não pertenciam ao mundo físico mas que tinham realidade a partir do mundo interno das ideias. Ficou aliviado de saber que então existia maneira de reconciliar o mundo ‘sensível’ (dos sentidos) e o mundo supra-sensível do espírito.
o Outra confirmação da interligação dos dois mundos ocorreu quando observou os efeitos no mundo espiritual dos rituais e liturgias da Igreja Católica Romana, na qual tinha sido baptizado.
o Na idade de adolescência interessou-se profundamente pela filosofia e chegou à conclusão que só através do método filosófico é que seria possível encontrar (ou seja, construir) a ponte que liga o mundo material e o mundo espiritual.
o No entanto, o pai queria que ele fosse estudar engenharia
o Foi para um colégio técnico estudar matemática, química, ‘história natural’ e decidiu que seria professor de ciência, no entanto continuou a estudar, também, filosofia. Aprendeu Latin e Grego, sózinho, passando até a ensinar estas matérias aos seus colegas com o intuito de ganhar algum dinheiro para ajudar a sustentar a família, que não tinha grandes possibilidades financeiras.
o Apesar do forte interesse na filosofia e especialmente nos filósofos contemporâneos, Steiner ficou sempre mais consciente da dificuldade de reconciliar os mundos materiais e espirituais de forma satisfatória para os cientistas e académicos ortodoxos.
o Nas primeiras semanas no colégio Steiner conheceu Karl Julius Schröer, Professor da Língua e de Literatura Alemã que tinha interesse especial nas obras de Goethe
o Steiner desenvolveu um interesse nas obras científicas de Goethe (que demonstram uma perspectiva bem diferente da perspectiva de Newton que era o paradigma adoptado pelo meio científico)
o Steiner encontrou nas teorias de Goethe mais confirmações do inter-relacionamento entre os mundos material e espiritual
o Dedicou-se, no seu tempo livre, a estudar botânica e anatomia seguinte a perspectiva Goethiana
o Em 1883, quando tinha só 22 anos foi convidado por um professor (por recomendação do professor Schröer) a editar as obras científicas de Goethe para publicação, uma tarefa que ele aceitou com grande entusiasmo
o Já interessado no ensino como profissão, e tendo se interessado por um livro do professor Schröer (chamado ‘Problemas do Ensino’) Steiner conversou frequentemente com o professor sobre a ideia dele (a qual com que ele concordava) – que a comunicação de conhecimento para crianças era um meio para um fim e não o fim em si mesmo e que era só incidental ao desenvolvimento do ser humano em termos de aprendizagem ao longo da vida inteira
o Por recomendação do Professor Schröer Steiner tornou - se tutor dos quatro filhos de Ladislaus e Pauline Sprecht, um trabalho que durou 6 anos. A maior responsabilidade desta tarefa era respeitante ao filho mais novo, Otto, que tinha 10 anos de idade, possuia uma doença cerebral e era considerado quase totalmente ineducável. Steiner dedicou a sua tarefa e conseguiu perceber a correlação entre a ‘natureza anímica-espiritual’ do rapaz e a sua condição física. Steiner comentou posteriormente que o seu verdadeiro curso em fisiologia e psicologia foi durante este período.
o Em dois anos a condição hidrocefálica do rapaz tinha regredido e Steiner conseguiu preparar Otto nas provas de aceitação para escola onde ele foi capaz de continuar com os estudos vindo este a formar-se como médico.
o Esta experiência, com certeza, influenciou Steiner no desenvolvimento da sua nova arte de educação, vários anos depois
o Durante este mesmo período ele continuou seus estudos do Goethe e em 1886 publicou: ‘A Teoria do Conhecimento Implícito na Concepção-Mundial do Goethe’.
o Em 1894 publicou a ‘Filosofia da Liberdade’ e em 1897 publicou ‘O Conceito Mundial do Goethe’. Estas obras são importantes para apreciar a base filosófica do trabalho científico-espiritual nas suas obras seguintes
o Steiner tinha já tido algum contacto com a Sociedade Teosófica por volta de 1888. Este grupo era interessante para Steiner mas ele não estava em pleno acordo com tudo que era ensinado e praticado, uma vez que não adoptava qualquer tradição (mesmo tradições esotéricas) sem testá-las previamente através das suas pesquisas no mundo espiritual – mantendo sempre uma atitude e critério de investigador cientifico-espiritual.
o Em 1900 Steiner foi convidado por membros proeminentes da Sociedade Teosófica a dar uma palestra sobre Nietzsche e uma semana mais tarde ele deu a sua primeira de natureza puramente esotérica com o título de ‘A Revelação Secreta de Goethe’
o Uma semana mais tarde deu o primeiro de uma série de vinte e sete palestras sobre misticismo e os místicos da Idade Média.
o Mas Steiner estava ciente que era preciso mais do que misticismo para resolver os problemas atuais da humanidade
o Iniciou em Outubro de 1902 um curso de palestras chamado ‘Cristiandade como Facto Místico’ que foi publicado em forma de livro, no mesmo ano.
o Esta obra explicava o desenvolvimento dos ‘Mistérios’ da antiguidade até o evento Crístico em Golgota de tal forma que demonstrava que não só forças históricas terrestres estavam envolvidas, mas que também influências ‘supramundanas’ estavam presentes.
o A oposição principal do Steiner aos ensinamentos da Sociedade Teosófica tinha a ver com a falta de reconhecimento e apreciação da missão de Cristo, do propósito dessa missão e também da falta de apreciação em relação ao significado da Cristiandade na civilização Ocidental.
o Ele fez questão de que essa posição fosse evidente.
o No entanto, aceitou um convite para associar-se à Sociedade Teosófica no final de Outubro de 1902 e passou a ser o Secretário Geral do ‘ramo’ Alemão da Sociedade.
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Tuesday, January 24, 2006

A tradução Portuguesa do livro 'Teosofia' - algumas discrepâncias, erros, dificuldades e confusões

Fazendo uma leitura comparativa da tradução inglesa e portuguesa do livro, 'Teosofia: Introdução ao conhecimento supra-sensível do mundo e do destino humano'*1, nota-se que em certos trechos a tradução para o português parece estar menos clara do que a tradução para o inglês. Portanto, estão aqui expostos alguns dos trechos de mais difícil compreensão junto com alguns comentários.
Em alguns casos estão incluídas também as versões inglesas para possibilitar uma comparação, e, por vezes, também sugestões para traduções alternativas à lingua portuguesa usando a versão inglesa como base.
O comentário, aqui no blog, limita-se quase por inteiro às questões de difícil compreensão, provenientes da tradução, deixando à parte a questão do estilo da própria escrita do Steiner).
(Veja também o artigo nesta página com o título: 'O estilo da escrita do Steiner'.)
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O início do primeiro capítulo do livro ('A natureza do homem') trata da questão do ser humano possuir 'três faces em sua natureza' - designados inicialmente como corpo, alma e espírito. Para ilustrar como cada destas faces actua no ser humano, Steiner começa por citar Goethe (p. 26):
"Tão logo o homem se apercebe dos objectos em seu derredor, considera-os com relação a si mesmo; e com razão, pois todo o seu destino depende da alternativa de que eles lhe agradem ou desagradem, atraiam-no ou o aborreçam, sejam-lhe úteis ou prejudiciais."
No entanto, Goethe diz que através deste "modo naturalíssimo de ver e julgar as coisas", o ser humano está "exposto a mil enganos. [...] Tarefa muito mais árdua empreendem aqueles cujo vivo impulso para o conhecimento (dos seres) da natureza leva a apreciá-los em si mesmos e em suas relações [com o resto da natureza]." A tradução em seguida diz que os homens, "como seres equivalentes e por assim dizer, divinos," têm de "buscar e investigar o que é, e não o que agrada."
Em vez de 'equivalentes' talvez seria mais coerente dizer 'equânimes'.

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p. 27, 2ª linha:
"como se fossem um ente divino" está incorrectamente traduzido. Este erro confunde o significado da frase onde ocorre a troca do sujeito e objecto da frase. O correcto é:
"como se fosse um ente divino". A frase é repetida na página seguinte (p. 28, linha 8), mas é traduzida correctamente nesta segunda instância.

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Pode ser útil esclarecer aqui o significado do termo 'anímico', usado com frequência no texto.
A palavra advém da palavra Latina, 'anima', que significa 'sopro', ou 'alma'. Portanto, a palavra 'anímico', significa, 'da alma'.
Por exemplo, a secção intitulada 'A natureza anímica do homem', recebeu em inglês o título, 'The soul-being of man'.


Nesta secção (nas página 30-31), encontra-se as seguintes frases esclarecedoras:
"A natureza anímica do homem distingue-se de sua corporalidade como um mundo interior próprio. Esse âmbito próprio se apresenta tão logo dirigimos a atenção à mais simples impressão sensorial."
"Deve-se, portanto, designar a impressão sensorial como algo anímico. Quem se esclarece inteiramente sobre esse facto deixa logo de considerar as experiências interiores como meros processos cerebrais ou algo semelhante.
"À impressão sensorial junta-se de início o sentimento. Uma sensação dá ao homem prazer, outra desprazer. Trata-se de emoções de sua vida interior, anímica."

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Algumas questões specíficas neste trecho:
(p. 31) (início do 3º parag.)
À impressão sensorial junta-se de início o sentimento.”

Na tradução inglesa:
“Feeling is closely allied to sensation.”
Ou seja,O sentimento está intimamente relacionada com a impressão sensorial (ou, ‘sensação’).

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(p. 31) (10ª linha/ penúltima frase do 3º parag.)
Assim sendo, é a alma que se contrapõe ao mundo exterior como o elemento próprio do homem.

Na tradução inglesa:
“Thus the soul as that which is man’s very own stands in contradistinction to the outer world.”
Ou seja,
Sendo que a alma é um elemento próprio do homem, o conteúdo distingue-se do conteúdo do mundo exterior.

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No final do primeiro capítulo, na explicação resumida dos vários elementos na natureza humana:
p. 49
É na alma que o eu lampeja, recebendo o impacto do espírito e tornando-se, portanto, veículo do homem-espírito.”
No inglês (p.42):
“In the soul the “I” flashes forth, receives the impetus from the spirit and thereby becomes the bearer of the Spirit-man.”
Ou seja,
Na alma o Eu lampeja, recebendo o impulso do espírito e torna-se, portanto, veículo do homem-espírito.”

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p. 49
“Embora o eu do homem 'resplandeça' na alma da consciência, nem por isso ele deixa de impregnar todo o ser anímico.”*2
A tradução inglesa têm:
"Althought the human "I" 'lights up' in the consciousness-soul it nevertheless penetrates the whole soul-being."

Portanto, o ênfase da frase talvez seria mais evidente se fosse expressa da seguinte forma:
“Embora que seja na alma da consciência que o "Eu" do homem 'ascende' (ou 'ilumina-se'), nem por isso ele deixa de impregnar todo o ser anímico.”

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*1 Título original: 'Theosofie - Enführung in übersinnliche Welterkenntnis und Menschenbestimmung'.
O texto em português usado aqui como referência é a 7ª edição da Editora Antroposófica (retraduzida e publicada em 2004). A edição inglêsa, infelizmente, não pode ser identificada por estar a faltar as primeiras páginas. Portanto, pode simplesmente ser considerada como uma tradução relativamente antiga. Houve tentativas para 'modernizar' um pouco o estilo da linguagem em algumas traduções inglêsas recentes dos textos do Steiner (afinal os textos originais já têm por volta de 100 anos) mas esta tradução não sofreu tais alterações (ou melhoras).
*2 “todo o ser anímico” = ‘a alma por completo’
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Os Corpos Subtis (em resumo)

· O corpo físico
· O corpo etérico (corpo vital)
· O corpo anímico-sensitivo-‘astral’
· A alma intelectual/ mental
· A alma da consciência
· O Eu, como cerne da alma Espiritual
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· Identidade epiritual, como corpo astral transformado (‘Spirit self’/ ‘Manas’)
· Espírito vital, como corpo vital transformado (‘Life spirit’/ ‘Buddhi’)
· Homem-espírito, como corpo físico transformado (‘Spirit Body’/ ‘Atma’)

(p.49-51 da edição Portuguesa)
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Trechos interessantes do prefácio e da introdução do livro 'Teosofia'

A maior parte dos vários prefácios das várias edições não interesserão muito para um estudo geral da antroposofia, mas as seguintes citações podem merecer serem contempladas:

(Do prefácio)
“Quem quiser buscar os caminhos que conduzem para além do mundo sensível, compreenderá logo que a vida humana só adquire valor e significado mediante um lance de visão num outro mundo. A pessoa que alcança tal visão não fica – como muitos receiam – alheada da vida ‘real’, pois apenas essa visão lhe permite alcançar firmeza e segurança nesta vida. Ela aprende a conhecer as causas da vida, ao passo que sem isso tateia como um cego em busca de efeitos. É somente pelo conhecimento do supra-sensível que o sensoriamente ‘real’ passa a ter um significado. Portanto, mediante esse conhecimento a pessoa se torna mais – não menos – apta para a vida. Só pode tornar-se uma pessoa verdareiramente ‘prática’ quem compreende a vida.” (p. 17)

“Não se pode ler este livro como se costuma ler livros em nossa época. Em certo sentido, cada página – aliás, cada frase – terá de ser trabalhada. Isso foi tencionado conscientemente, pois só assim o livro pode vir a ser, para o leitor, o que realmente deve ser. Quem simplesmente o ler da primeira à ultima página não o terá lido de facto. Suas verdades devem ser vivenciadas. A Ciência Espiritual só tem valor nesse sentido.” (p. 17-18)

“Quem busca neste livro as verdades ‘finais’ talvez o ponha de lado com insatisfação; pois inicialmente tiveram de ser apresentadas, justamente do âmbito genérico da Ciência Espiritual, as verdades fundamentais.” (p. 18)

“Quem faz hoje uma explicação de fatos supra-sensíveis deveria ter clareza sobre duas coisas: primeiro, que o nosso tempo precisa do cultivo de conhecimentos supra-sensíveis; e segundo, que nos meios intelectuais existe hoje uma abundância de ideias e emoções fazendo com que essa explanação pareça árida fantasia e devaneio. A época actual necessita de conhecimentos supra-sensíveis, pois tudo o que o homen sabe usualmente do mundo lhe provoca uma infinidade de perguntas que só podem ser respondidas pelas verdades supra-sensíveis. Ora, é preciso não iludir-se sobre um ponto: o que se pode obter das correntes de pensamento moderno a respeito dos fundamentos da existência constitui, para uma alma com sensibilade mais profunda, não respostas, mas indagações relacionadas com os grandes enigmas do mundo e da vida. Alguem pode supor, por algum tempo, ter encontrado uma solução para os enigmas da existência nos ‘resultados de factos estritamente científicos’, ou nas conclusões de algum pensador contemporâneo; mas se a alma descer às profundezas que deve alcançar quando realmente compreende a si mesma, aquilo que inicialmente lhe aparecia uma solução lhe parecerá apenas uma incitação à verdadeira pergunta. E uma resposta a essa pergunta não apenas redundará numa satisfação da curiosidade humana: ela mesma constitui condição essencial para a serenidade e coerência interior da alma. Alcançar tal resposta não somente satisfaz o impulso cognitivo, mas faz do homem um ser laborioso e maduro para as tarefas da vida, enquanto a ausência da solução para os referidos problemas tendem a paralisar-lhe a alma e, em última instância, também o corpo. O conhecimento do supra-sensível não é simplesmente algo que atenda à necessidade teórica, mas à verdadeira vida prática. É justamente por causa do estilo da vida mental moderna que o conhecimento espiritual constitui um domínio cognitivo indispensável ao nosso tempo.
Por outro lado, é patente que muitos repelem hoje, com a maior veemência, precisamente aquilo de que mais necessitam. O poder coercitivo de muitas opiniões formadas com base nas ‘experiências científicas exatas’ é tão grande, para muitas pessoas, que elas não conseguem senão considerar um absurdo espantoso a matéria de um livro como este. Quem expõe conhecimentos supra-sensíveis consegue encarar essas coisas sem ilusão alguma. Aliás, esse tipo de expositor será facilmente intimado a dar provas ‘imparcias’ de suas afirmações. Só que em tal caso nunca se reflete que isso é entregar-se a uma ilusão; pois o que se exige – aliás inconscientemente – não são as provas inerentes às coisas, mas aquelas que se quer ou se está em condições de reconhecer.
O autor desta obra sabe que nada se encontra nela que não possa ser reconhecido por toda e qualquer pessoa firmada nas bases do conhecimento científico da actualidade. Sabe que é possível atender a todas as exigências das Ciências Naturais e, precisamente por isso, ver fundamentada em si mesma a forma de exposição feita aqui a respeito do mundo supra-sensível. Aliás, justamente a genuína mentalidade científica deveria sentir-se em casa nesta exposição.” (p. 19-20)

(Da introdução)
“Contudo, nem só a pesquisadores do mundo espiritual deve falar o observador do supra-sensível. Ele deve dirigir suas palavras a todos os homens, pois tem de informar sobre coisas que interessam a todos eles; sim, ele sabe que ninguém pode ser 'homem' na plena acepção do termo sem um conhecimento dessas coisas - e fala a todos os homens por saber que existem vários graus de entendimento para o que tem a dizer; sabe que também podem compreendê-lo os que ainda estejam longe do momento de ter acesso à sua própria pesquisa espiritual - pois o sentimento e a compreensão da verdade existem em todo ser humano. (p. 22)
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Bemvindos!

Bemvindos ao weblog do grupo de estudo de antroposofia!

Para que este site possa ter a maior utilidade, coloquem aqui seus comentários e questões.
Obrigado,
Peter
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